cheguei a altura
onde a flecha
no quadril
já faz parte
e a mulher que
chora no rio
não vai a lugar
algum
desculpe
mas não posso
enxugar suas lágrimas
como um dia
um profeta
deliquente disse
é que
não precisamos de mais poemas
é que ninguém precisa
de poemas
e são apenas eles
que sei fazer
não há mais essa fome
e tudo que faço
agora tem outro nome
é que
suas lágrimas são mais antigas
assim como as letras
que mais parecem
ossos do que traços
e eu te digo
espere de mim
apenas
a flecha
cravada no
quadril
os pulsos
cansados de
produzir vento
e as mãos
carentes
de torção
são suas essas
lágrimas
e eu
não opero milagres
não desintegro
rapazes
e nem trago
boas novas
o que ofereço é
o peso da corça
que carrego nas costas
pois o dorso do animal ferido
está descansando
em mim
a flecha que era dele
agora é minha
e eu a carrego
e o carrego
até que os dias
possam ser menos
distantes
não pare com
as lágrimas
mas responda
quer o peso
da corça
quer aquecê-la
e caminhar
junto a mim?
não é uma pergunta simples
há flechas que serão dela
outras, suas
e você tem que estar disposta
a levar as horas
até o estado de milagres
porque este
é o caminho
que se faz
quando sabe que
poemas não são necessários e
muito menos maiores
que o ofício de
carregar corças
nas costas.
💚 excelente.