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Caio Ribeiro

ana

desculpe se te pareço um ladrão

(ou qualquer coisa que o valha)

é que roubo

desde criança

desde que leio

assalto


aprendi as duas coisas

juntas

não escrevo

sem crime

não mato

sem

verso.


ana,

não há caminho pra mim

(não há caneta pra mim)

só vontade de ter nas mãos

letras suas


entenda, ana

que roubo

porque sou bom

não por desejo.


não sou bandido, mas

um roubador.


roubo porque assim

te pertenço a mim


na página

acumulo os frutos

da noite de furtos

uma letra tua

um título teu

uma vontade de ser teu amigo

ou perguntar sobre aquele nome que parece com xícara quando pronunciado muito baixo.


queria te mostrar a cômoda da minha bisavó

mas só roubando é que

me visita, ana.


em meus anagramas mais secretos

o rasto-de-lã

é salteador

mas teu palíndromo é absoluto,

ana

é como rever

a luz azul.


ana,

te roubo

não

porque faz poesia

com o valor

de ouro

mas porque

o que sua mão produz

é uma filosofia

para minha mão

carente

de cartografias.




Caio Ribeiro

aranha faz uma

pequena teia

entre a pia e a chaleira


e percebo que

pode ser casa

tudo que para

e permanece.

Caio Ribeiro

não é fácil defender o que eu defendo

preferia não ter que lutar.


acontece que

só escrever não é suficiente,

entende?


escrever é

escavar

eu sempre disse isso

e fica cada vez mais

difícil

sustentar


luto pelo fim do poema,

não queria.

é preciso.


não pode ser ruim

será um bem da humanidade

o fim do poema

libertação em massa

de toda

criatura

que lê.


queria te manter pra sempre ali

naquelas cinco estrofes

das quais vivemos 3

e as outras duas são

saudade

queria deixar a história congelada

ali

sem ter que terminar aquele

poema

onde somos

amantes e imortais


não dá mais.


luto pelo fim do poema.


está decidido.

você fica livre

eu me livro.


terminarei aquele poema ainda esta noite.

e poderei

dar vazão

ao sentimento

reestruturar a história toda

exorcizar o que não existe (e eu inventei)

e

finalmente

entrar em

luto pelo poema.


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