ana
desculpe se te pareço um ladrão
(ou qualquer coisa que o valha)
é que roubo
desde criança
desde que leio
assalto
aprendi as duas coisas
juntas
não escrevo
sem crime
não mato
sem
verso.
ana,
não há caminho pra mim
(não há caneta pra mim)
só vontade de ter nas mãos
letras suas
entenda, ana
que roubo
porque sou bom
não por desejo.
não sou bandido, mas
um roubador.
roubo porque assim
te pertenço a mim
na página
acumulo os frutos
da noite de furtos
uma letra tua
um título teu
uma vontade de ser teu amigo
ou perguntar sobre aquele nome que parece com xícara quando pronunciado muito baixo.
queria te mostrar a cômoda da minha bisavó
mas só roubando é que
me visita, ana.
em meus anagramas mais secretos
o rasto-de-lã
é salteador
mas teu palíndromo é absoluto,
ana
é como rever
a luz azul.
ana,
te roubo
não
porque faz poesia
com o valor
de ouro
mas porque
o que sua mão produz
é uma filosofia
para minha mão
carente
de cartografias.